O que aconteceu com o fotógrafo Alex Silva não é apenas mais um caso de demissão em uma redação tradicional. É um retrato profundo, doloroso e revoltante de como a liberdade de imprensa, muitas vezes exaltada em discursos e campanhas publicitárias, é ignorada na prática quando esbarra nos interesses dos poderosos.
Alex Silva não inventou nada. Ele não fabricou uma manchete. Tampouco manipulou fatos ou imagens. Ele apenas cumpriu o seu dever como repórter fotográfico: observou, clicou e registrou um momento espontâneo de altíssimo valor jornalístico. O gesto obsceno de um ministro da mais alta Corte do país, feito em público, durante um evento esportivo, foi capturado com precisão e coragem. E o que o jornal fez? Em vez de reconhecer a relevância do registro, decidiu silenciar o profissional. Demitiu o homem que, com sua lente, revelou uma face nua e crua do poder.
É inaceitável que um jornal abandone um profissional por cumprir com excelência a sua função.
Em qualquer redação digna de seu papel histórico, a atitude de Alex Silva deveria ser motivo de aplausos. Foi ele quem trouxe à tona um flagrante que escancarou o abismo entre o que se exige do cidadão comum e o que se tolera das autoridades. Ele entregou ao público um fato, uma imagem, uma verdade. Mas essa verdade incomodou. E, como costuma acontecer em tempos de conveniências seletivas, quem mostra a verdade é que acaba sendo punido.
Essa história escancara a contradição de um país onde se exalta a liberdade de imprensa, mas se pune quem ousa usá-la de verdade. Onde muitos veículos preferem preservar os relacionamentos de bastidores do que defender os profissionais que estão na linha de frente. Onde é mais seguro cortar talentos do que enfrentar o desconforto de mostrar a realidade como ela é.
É revoltante ver um dos maiores jornais do país virar as costas para quem tem coragem.
Alex Silva não pediu para estar naquele momento. Ele foi informado da presença do ministro no estádio, agiu como qualquer repórter atento e capturou aquilo que poucos teriam conseguido. Foram apenas três fotos. Mas foram as três imagens que sintetizaram o estado de tensão, arrogância e desrespeito institucional que atravessa o país.
Num momento em que tantos se curvam, ele permaneceu firme com sua câmera. Registrou o que outros não viram ou fingiram não ver. E pagou por isso.
Essa covardia não pode ser naturalizada.
É preciso dizer, com todas as letras, que não se trata de uma simples dispensa motivada por reestruturação interna. Essa demissão carrega o peso da censura disfarçada, da intimidação sutil, do medo de desagradar figuras que estão acima da crítica.
A liberdade de imprensa só existe de fato quando é defendida mesmo nos momentos incômodos, mesmo quando desafia os poderosos, mesmo quando mostra o que muitos não querem ver. Silenciar quem ousa mostrar é, no fundo, escolher o lado da omissão.
Talvez a grande pergunta não seja porque o jornal o demitiu. A pergunta que realmente incomoda é:
Se o próprio jornal abandona quem ousa mostrar a verdade, quem ainda está disposto a contá-la?
Por Léo Vilhena | Jornalista