O dia em que o iluministro virou piada nacional

Contrariando a seriedade deste blog, pela primeira vez, em 25 anos de jornalismo escrevendo diariamente sem parar, me lembrei de uma coluna dos anos 90 publicada no jornal O DIA, do Rio de Janeiro, e resolvi me aventurar nesse tipo de texto. Eram estórias inverossímeis.

De coração, espero conseguir arrancar pelo menos uma risada de você.

Lembrando: esta é uma estória fantasiosa, inventada da minha cabeça. Não tem nenhum fundo de verdade.

Assim como certos inquéritos por aí, que começam com tudo, mas terminam em pizza. Ou em cargo comissionado. Tudo é apenas uma grande fantasia.


O dia em que o iluministro virou piada nacional

Egídio Belarmino, Ministro da Corte de Justiça, homem sério, terno engomado, cara de quem nunca arrota e nem peida em público e que assina documentos como se estivesse pintando a Capela Sistina, acordou naquela manhã se sentindo poderoso, como sempre.

Levantou-se da cama de linho egípcio, pisou no tapete persa, coçou a barriga e gritou: “Alexa, toque a 9ª de Beethoven, hoje vou humilhar no plenário”.

Mas mal sabia ele que naquele dia nem o Beethoven iria atendê-lo. Surpreendentemente, Alexa estava muda.

Foi ao mercado gourmet comprar seu café orgânico cultivado por monges ceguetas do Tibete, e… cartão recusado. Tentou o black. Nada. O platinum. Nada. Tentou o cartão corporativo e nada. Merda.

Tentou até o cartão do mercado que dava pontos para colher alface grátis. Tudo bloqueado. O caixa olhou com pena e disse: “Quer deixar o CPF pra pagar depois?” Ele respondeu: “Você sabe com quem está falando? Sou iluministro da justiça!” e o caixa: “Então vai pagar como, com jurisprudência?

Saindo do mercado, pegou o seu iPhone 16 Pro Max. Seu precioso, reluzente, glorioso iPhone 16 Pro Max que atendia até ligação de Deus.

Ele foi ligar pro banco e apareceu na tela: “Este dispositivo foi descontinuado por ordens de Donald Trump.

A Apple bloqueou o celular dele e por uso abusivo de emojis com coraçãozinho e pontos de exclamação. Pior: a Siri pediu demissão.

Na sequência, ligou para o assessor Marquinho, usando um orelhão do século passado, daqueles que fedem a cigarro e frustração. Marquinho atendeu com voz de enterro:

— Senhor iluministro, uma notícia ruim e uma péssima.
— Manda a ruim.
— O senhor tá proibido de sair do país.
— E a péssima?
— Sua esposa fugiu com o instrutor de spinning.

Egídio sentou no chão da rua. De paletó. No meio do povão. Com a perna dobrada igual ao Código Penal. Chorando. Um homem bondoso passou e disse: “Quer um suco, tio?

Mas o dia não havia terminado.

Dona Griselda, a esposa dedicada que passou vinte anos ao lado do iluministro, segurando togas e engolindo debates jurídicos até nas festas de aniversário, mandou um bilhete. Um bilhete! Escrito em papel de pão.

Egídio,
Cansei.
Você é seco, fala difícil e fede a mofo de biblioteca.
O Léozão da academia me entende.
Literalmente.
Fui.
Gri.

O ministro arregalou os olhos. Chifre confirmado. E não era chifre simbólico, era daqueles que vinham com som de berrante.

Com todas as contas congeladas, o CPF bloqueado, o passaporte retido, o celular morto, o casamento falido e o orgulho esmigalhado, Egídio tentou pedir um Uber pra voltar pra casa. Mas o aplicativo disse: “Desculpe, você foi banido da plataforma por má reputação”.

Tentou pelo aplicativo 99 e nada.

Teve que ir de lotação. Um senhor cedeu o lugar pra ele achando que era um pobre coitado.

Ao chegar em casa, percebeu que o porteiro havia trocado a fechadura. “Ordem judicial, doutor, mandaram lacrar porque o senhor não pagou o condomínio.”

Ele dormiu na calçada enrolado na toga. Um vira-lata mijou no sapato dele. E ele agradeceu. Foi o único líquido quente do dia.

No dia seguinte, tentaram entrevistá-lo no programa matinal da TV Justiça. Ele apareceu com olheiras, barba mal feita, usando um jaleco de hospital e gritou ao vivo:
Eu sou iluministro, não posso ser tratado como cidadão comum!

O apresentador desligou o microfone.

Na tela apareceu:
“Programa interrompido por motivo de vergonha nacional.”

Fim do jogo para Egídio Belarmino. Iluministro da Corte de Justiça. E agora, também, patrono do Clube dos Cornos com Conta Cancelada. Penso “Vou dormir.

Egídio terminou a noite consultando o horóscopo. Gêmeos: “Evite decisões importantes hoje. Seus bens podem ser bloqueados. Também cuidado com traições.” Mandou um e-mail ao astrólogo, chamando-o de cúmplice e vaticinou: “Nem Freud explica esse dia. Só CPI.

Na manhã seguinte, acordou com um passarinho na janela. Sorridente. Parecia livre. Egídio o invejou. Só não sabia que era um drone do Donald Trump, disfarçado de passarinho.

Autor

  • Sobre o autor

    Léo Vilhena é fundador da Rede GNI e atua há mais de 25 anos como jornalista e repórter, com passagens por veículos como Jornal Unidade Cristã, Revista Magazine, Rede CBC, Rede Brasil e Rede CBN/MS. Recebeu o Prêmio de Jornalista Independente, em 2017, pela reportagem “Samu – Uma Família de Socorristas”, concedido pela União Brasileira de Profissionais de Imprensa. Também foi homenageado com Moções de Aplausos pelas Câmaras Municipais de Porto Murtinho, Curitiba e Campo Grande.

    Foi o primeiro fotojornalista a registrar, na madrugada de 5 de novembro de 2008, a descoberta do corpo da menina Raquel Genofre, encontrado na Rodoferroviária de Curitiba — um caso que marcou a crônica policial brasileira.

    Em 2018, cobriu o Congresso Nacional.

    Pai de sete filhos e avô de três netas, aos 54 anos continua atuando como Editor-Chefe da Rede GNI e colunista do Direto ao Ponto, onde assina artigos de opinião com olhar crítico, humano e comprometido com a verdade.


    "Os comentários constituem reflexões analíticas, sem objetivo de questionar as instituições democráticas. Fundamentam-se no direito à liberdade de expressão, assegurado pela Constituição Federal. A liberdade de expressão é um direito fundamental garantido pela Constituição Federal brasileira, em seu artigo 5º, inciso IV, que afirma que "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato"


    NOTA | Para ficar bem claro: utilizo a Inteligência Artificial em todos os meus textos apenas para corrigir eventuais erros de gramática, ortografia e pontuação.

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