O desespero da Faria Lima

Por mais que pareça alarmista esta manchete ou escopo, como queiram chamar, de alarmista ela não tem nada. Apenas reflete o momento da Avenida Brigadeiro Faria Lima, no centro de São Paulo.

Para quem não sabe, na Faria Lima estão instalados os maiores escritórios de banqueiros, economistas, investidores e empresários de diversos setores. Ali pulsa o coração financeiro do Brasil. Tudo, absolutamente tudo o que envolve negócios de grande porte, passa obrigatoriamente pela Faria Lima.


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Avenida Brigadeiro Faria Lima


O Google descreve a avenida da seguinte forma: “A Avenida Brigadeiro Faria Lima é uma das mais importantes artérias da cidade de São Paulo. Principal centro financeiro do Brasil, destaca-se como um dos mais relevantes polos comerciais e financeiros da cidade, ao lado do Centro, da Avenida Paulista e da região das avenidas Luís Carlos Berrini e Nações Unidas.

Foi ali, na Faria Lima, que o Brasil financeiro acordou com um frio na espinha. Até mesmo o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, conhecido por seu tom radical, rendeu-se à verdade. Méritos para ele:


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A sanção do Tesouro dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes mudou a conversa nas salas de reuniões da Faria Lima. E a verdade é clara: não se trata de ruído, mas de risco concreto. Quando o órgão que vigia o sistema financeiro global coloca um nome na lista de bloqueio, determina que toda propriedade sob jurisdição americana seja congelada, e ainda estabelece que violações podem gerar sanções civis ou criminais, inclusive contra estrangeiros. Esse é o novo tabuleiro.

A formalização saiu no ‘diário oficial’ americano e confirmou a inclusão de Moraes na lista de pessoas sancionadas com base na ordem executiva que implementa a Lei Magnitsky. O que antes era apenas debate político agora se transformou em efeito financeiro real sempre que houver contato com o sistema dos Estados Unidos.


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O desespero de um banqueiro da Faria Lima


A reação do mercado foi imediata. Bancos e escritórios de compliance começaram a revisar procedimentos e mapas de risco para compreender se operações com cartões internacionais, câmbio e pagamentos no exterior poderiam se cruzar com o nome do ministro. A leitura é simples e dura: se houver trânsito por bancos americanos ou por redes com presença nos Estados Unidos, a regra é de tolerância zero. É uma ‘tornozeleira eletrônica’ invisível.

Não por acaso, relatos dão conta de executivos de bancos brasileiros ligando para escritórios jurídicos nos Estados Unidos em busca de respostas rápidas.

A lista de instituições brasileiras com ligação direta ao sistema financeiro americano é vasta. De Itaú e Bradesco a Santander e Banco do Brasil, passando por plataformas emissoras de cartões internacionais, praticamente todos os grandes grupos têm exposição. Não se trata de boa vontade, mas de evitar que um descuido vire um problema com o regulador mais temido do planeta.

Do lado de cá do balcão, o governo tenta blindar os seus. O ministro Flávio Dino afirmou que leis estrangeiras denão se aplicam automaticamente no Brasil e enviou comunicados a bancos. Essa atitude de Flávio Dino, podem ter certeza, colocou o Brasil de vez nos radares americanos, e quem pagará essa conta será o povo.

A medida gera conflito de jurisdições e pressiona os departamentos jurídicos, mas não neutraliza a espada do órgão americano sempre que houver dólar no caminho. Essa é a diferença entre a lei local e a realidade do fluxo global.

Um consenso prático começa a se formar. Operações domésticas em real tendem a continuar, com bancos atentos às ordens judiciais brasileiras. Já qualquer transação com elo internacional deve ser travada, imediatamente.


O aviso americano foi muito claro:


Entenda uma ‘coisinha’: Cartões emitidos aqui, mas liquidados no exterior; pagamentos a prestadores de fora; remessas e compensações em dólar entram imediatamente no radar. 

O temor não é retórico.

O Tesouro americano aplica penalidades com base em responsabilidade objetiva. Basta a infração. Não se discute intenção.

Em linguagem popular, o recado para a Faria Lima é direto. Entre desagradar Brasília e desagradar Washington, o risco financeiro de desagradar Washington é incomparavelmente maior. O órgão americano já deixou claro que pode punir quem prestar apoio material a sancionados. E ninguém quer ver seu nome em uma lista que corta o acesso ao coração do sistema financeiro mundial.


Leia também: https://diretoaoponto.blog/a-militancia-insuportavel-dos-iluministros/


O Brasil precisa encarar o tema sem eufemismos. A sanção contra Moraes é um terremoto com ondas que atingem em cheio a praia dos bancos. O investidor que observa juros, câmbio e bolsa sabe que incerteza jurídica custa caro. O país só ganha quando o Estado respeita limites e quando o mercado opera com previsibilidade.

No momento, a mensagem que ecoa das janelas envidraçadas da Faria Lima é uma só: cautela, prudência e obediência às regras do jogo global, porque o preço da ousadia pode vir em dólar.

A Faria Lima está em desespero.


 

Autor

  • Sobre o autor

    Léo Vilhena é fundador da Rede GNI e atua há mais de 25 anos como jornalista e repórter, com passagens por veículos como Jornal Unidade Cristã, Revista Magazine, Rede CBC, Rede Brasil e Rede CBN/MS. Recebeu o Prêmio de Jornalista Independente, em 2017, pela reportagem “Samu – Uma Família de Socorristas”, concedido pela União Brasileira de Profissionais de Imprensa. Também foi homenageado com Moções de Aplausos pelas Câmaras Municipais de Porto Murtinho, Curitiba e Campo Grande.

    Foi o primeiro fotojornalista a registrar, na madrugada de 5 de novembro de 2008, a descoberta do corpo da menina Raquel Genofre, encontrado na Rodoferroviária de Curitiba — um caso que marcou a crônica policial brasileira.

    Em 2018, cobriu o Congresso Nacional.

    Pai de sete filhos e avô de três netas, aos 54 anos continua atuando como Editor-Chefe da Rede GNI e colunista do Direto ao Ponto, onde assina artigos de opinião com olhar crítico, humano e comprometido com a verdade.


    "Os comentários constituem reflexões analíticas, sem objetivo de questionar as instituições democráticas. Fundamentam-se no direito à liberdade de expressão, assegurado pela Constituição Federal. A liberdade de expressão é um direito fundamental garantido pela Constituição Federal brasileira, em seu artigo 5º, inciso IV, que afirma que "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato"


    NOTA | Para ficar bem claro: utilizo a Inteligência Artificial em todos os meus textos apenas para corrigir eventuais erros de gramática, ortografia e pontuação.

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