Viver em um regime democrático não é apenas uma escolha política. É, acima de tudo, um compromisso diário com a liberdade, com o respeito à diversidade de opiniões e com a soberania do povo. Em tempos de polarização intensa e discursos inflamados que tentam descredibilizar as instituições, é imperativo lembrar por que a democracia continua sendo o mais valioso e frágil dos sistemas.
A democracia é imperfeita, sim. É barulhenta, lenta, contraditória. Mas é justamente essa imperfeição que a torna humana. Diferente das ditaduras, que impõem o silêncio à força, a democracia permite que vozes discordantes se manifestem, que minorias sejam ouvidas e que governos sejam criticados sem que isso custe a liberdade ou a vida de quem se expressa.
Quem já viveu sob regimes autoritários sabe o que está em jogo. Não se trata apenas de ideologia ou preferências partidárias. Trata-se da dignidade de escolher seus representantes, de ir às urnas e saber que seu voto conta. Trata-se de poder escrever, falar, publicar e protestar sem o risco de ser censurado ou punido. Trata-se de não ter medo do próprio governo.
Nos últimos anos, vimos com preocupação o crescimento de movimentos que flertam com o autoritarismo, que pedem o fechamento de instituições e que relativizam direitos fundamentais sob o pretexto de “combater inimigos”. Nenhuma ameaça à democracia começa de repente. Ela sempre vem disfarçada de ordem, de moral, de bem comum. Começa pela desvalorização da imprensa, pela perseguição a opositores, pela banalização da violência estatal. E quando se percebe, já não há liberdade, nem justiça, nem futuro.
Mas é preciso lembrar: democracia não é apenas votar. Democracia é fiscalizar, é questionar, é participar. É responsabilidade de cada cidadão defender o Estado de Direito, proteger as liberdades civis e repudiar qualquer tentativa de imposição autoritária, seja ela vinda da direita, da esquerda ou de qualquer outro espectro ideológico.
Não se constrói um país melhor com repressão. Não se combate a corrupção enfraquecendo a Justiça. Não se combate a mentira censurando a verdade. E não se alcança paz social sem diálogo, sem instituições fortes, sem um Judiciário independente, sem um Legislativo atuante, sem uma imprensa livre.
Democracia é, por definição, o regime em que o povo governa. Mas para isso, o povo precisa ser educado, informado e, acima de tudo, livre. A democracia não se sustenta sozinha. Ela precisa de guardiões. Precisa de cidadãos atentos. Precisa de jornalistas que falem o que precisa ser dito, mesmo quando isso incomoda. Precisa de professores que formem consciências. Precisa de juízes imparciais, de políticos honestos, de eleitores que saibam o poder que têm nas mãos.
É por isso que, diante de todas as ameaças que rondam o nosso presente, reafirmamos: viver em democracia não é apenas necessário, é essencial. E se for preciso defendê-la com firmeza, com coragem e com a verdade, estaremos prontos. Porque sem democracia, nada mais importa.
Léo Vilhena | Jornalista